Quando comecei no BDSM, ouvi algumas vozes dizerem: “Ah… vc é Dominador! É fácil ser Dominador”. Não serei eu que começarei a hierarquizar as atividades do BDSM à ponto de afirmar que essa ou aquela posição é mais “fácil”. Para mim, praticar BDSM é tarefa exigente, em qualquer posição que se ocupe.
No entanto, usarei essa frase pelo que ela revela: como muitas pessoas estão desinformadas sobre a exigência que paira sobre nossas cabeças e talvez sobre o que significa ser BDSMista.
No caso dos Dominadores e Dommes (usarei o termo Dominador genericamente à partir de agora, representando qualquer um dos gêneros), o ingrediente adicional é o da conseqüência dos atos, como veremos.
Não se pode deixar de ter em mente que a sigla comporta diferentes práticas, diferentes exigências, diversas necessidades de conhecimento e… diversos riscos. Esses riscos devem ser entendidos multidimensional mente, no viés físico mas , principalmente, no viés psicológico e emocional.
Isso traz conseqüências quando pensamos na questão da inexperiência dos Dominadores e digo isso baseado na minha experiência como spank que, obviamente, foi iniciante um dia. Evidentemente que cometi muitos erros, felizmente, todos reparáveis na medida do possível, sem nenhuma conseqüência mais grave.
Haveria uma “regra” a observar quando se deseja iniciar a prática de algo que sempre se quis fazer e nunca se fez? Não digo que seja regra mas costumo dizer que quando não se sabe algo deve-se “estudar”, “observar” e “perguntar”. Reflitamos um pouco sobre isso.
ESTUDAR
Para que se estude, existem vários sites, blogs e outros , na web. No entanto, aquela dica de sempre, falada por todos os que orbitam no “cyber espaço”: sempre façam a crítica do material lido. Existem alguns sites que recomendo sem pestanejar como o Desejo Secreto e a Toolbar do Carcereiro ( *). Eles contêm matérias sérias e escritas por gente série, portanto, é uma fonte indispensável de pesquisa.
A leitura de uma técnica não é como ler uma receita do que fazer e pronto mas deve ser o momento no qual pergunta-se: “sou capaz de fazer? o que preciso para fazer? quais são os cuidados que preciso para fazer?”. Quem já trabalhou desde uma cozinha até uma gerência sabe o que é isso: PLANEJAMENTO!!!
Planeje sua nova prática, veja quais são os potenciais riscos, como minimizá-los, quais as providências a tomar etc. Mesmo que algumas correntes tresloucadas digam de uma “responsabilidade compartilhada”, não se engane Dominador, a responsabilidade sempre será SUA, INTRANSFERÍVEL. Falaremos sobre isso mais tarde.
OBSERVAR
Você, Dominador, freqüenta um clube BDSM com sua submissa ou sem? Eis uma excelente oportunidade para praticar o segundo item do nosso binômio, o observar.
Responda sinceramente: quantas vezes, seja na sua vida “civil” ou no “meio”, muitas idéias não vieram à sua cabeça quando viu alguma prática sendo feita? Muitas vezes, não é verdade? Pois então! Há uma grande oportunidade para, de posse das informações iniciais, vê-las colocadas em prática por pessoas mais experientes.
Atente aos detalhes técnicos mas também aos comportamentais. Como o Dominador se porta em determinado momento e em determinada prática? Quais são os acessórios e outros “elementos” que ele tem à mão, inclusive para o caso de uma emergência. Um exemplo: sempre é interessante que se tenha por perto uma tesoura, faca, estilete ou qualquer coisa cortante quando se pratica amarrações, para o caso de ter de cortar as cordas em uma emergência. Isso é um aprendizado importante.
Outro exemplo: a prática do “tramppling”. Apesar de ser uma prática proibida para mim , dado meu peso e altura, não deixo de observar que a pratica, onde pisar, que áreas evitar etc. Quem sabe um dia eu emagreça muito (porque de altura não vou diminuir mesmo) e consiga praticar (coitadinha da minha subzinha!!!!). No entanto, as informações básicas já estão adquiridas e junto com o estudo, já fazem uma “massa crítica” super importante para nossa futura prática. Agora discutamos o último item do trinômio.
PERGUNTAR
Não há um grande número de Dominadores que se recusem a comentar sobe suas práticas. Vamos e convenhamos: há maior orgulho para quem faz algo (e bem feito), do que ser reconhecido? Olha, te digo, faz um bem danado para o ego!!! Acredito também que além de reconhecido, a maioria tenha grande boa vontade em compartilhar aquilo que aprendeu ao longo da trajetória, assim como outros fizeram com ele dia desses.
Portanto, não tenha vergonha de perguntar! Colete o máximo de informações possíveis para formar a sua própria “base de conhecimento” e aplique-o com cuidado!
Além disso , tenha certeza, você terá um novo amigo(a)! Quer coisa melhor do que isso?
MAS VOCÊ E SUA(SEU) SUBMISSO(A) FAZEM OU NÃO FAZEM UMA DUPLA?
Opa! A “temperatura” da conversa subiu de repente? O chicote virtual ameaçou estalar? Nada disso! Isso é recurso de articulista para chamar a atenção.
No entanto, ela começa a apontar uma questão que você enquanto Dominante deve ter em mente: por mais que haja uma relação D/s entre vocês, é importante ouvir o que o bottom tem a dizer sobre a prática que vocês se propuseram a fazer. Afinal, aperfeiçoamento se faz à partir de “feedback”, não tem jeito mesmo!
Reservem algum momento para conversar sobre as sensações, dúvidas, dores , prazeres e etc e veja se há algo a mudar ou , inclusive, melhorar ainda mais. No meu caso, esses “feedbacks” ocorrem depois da sessão, logo depois daquele momento que vocês querem é mesmo ficarem juntos. Posso dizer que vale muito a pena.